Nova Santa Rita – Com a previsão de colher mais de 550 mil sacas de arroz agroecológico, cerca de 27 mil toneladas, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra realizou nesta sexta-feira (17), a abertura oficial da 14ª colheita do arroz agroecológico em Nova Santa Rita, no assentamento Capela com a presença de 1,5 mil pessoas. Nossa reportagem foi acompanhar de perto esta grande festa da produção sustentável de alimentos produzidos sem o uso de venenos ou agrotóxicos. O arroz agroecológico é um dos itens que você pode adquirir na cooperativa Girasol, que desde o início da produção do grão é parceira do MST na abertura de novos mercados de consumo consciente.

No assentamento Capela, onde cem famílias dividem 2.170 hectares conhecemos a família de Fátima Milhoransa e Nilvo Bosa, que desde 1994 vivem e produzem alimentos saudáveis. Nilvo nos conta que no começo, a produção era convencional, mas no ano 2000 a opção pela produção agroecológica se tornou uma escolha natural para os produtores. “Com o arroz agroecológico, a natureza faz sua parte e conseguimos ter uma produção limpa e mais barata. Sem usar os adubos convencionais, temos mais saúde e renda. É só deixar a planta seguir seu curso normal que ela fica resistente às pragas e doenças”.

O MST é reconhecidamente o maior produtor de arroz agroecológico do Brasil. No Rio Grande do Sul, são 616 famílias produzindo em mais de 5 mil hectares distribuídos em 22 assentamentos de 16 municípios. E a produção só cresce. Nesta safra 2016-2017 houve aumento de 40% de área plantada e previsão de colheita em relação à anterior.

Investimento coletivo
Na avaliação de Bosa, o segredo do sucesso das famílias assentadas na região está na organização coletiva, no esforço comum de buscar investimentos e melhorias. “Com a formação da cooperativa, não é o investimento de um único agricultor. A gente investe junto, assim conseguimos fazer bons investimentos com bastante gente”, afirma ao resgatar a importância histórica da organização da Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan), que além de produzir o arroz, agroindustrializa o grão e ainda gera as sementes para a próxima safra.

Uma preocupação permanente dos assentados, é a permanência dos filhos no campo, com acesso à educação, cultura e oportunidades de geração de renda. “Nossa cooperativa também tem dado certo porque temos desde o início uma política de integrar os nossos jovens, nossos filhos na cooperativa. Mas não é só na produção e com dinheiro que tu mantém os jovens no campo, também tem que dar oportunidade de estudo, de lazer, de diversão. E isto está dando certo, até hoje só dois jovens saíram aqui do assentamento, porque casaram e foram morar em outros assentamentos”, comemora ao lembrar que de seus quatro filhos, três já trabalham em agroindústria da Coopan.

A produção de grão sem o uso de venenos é feita nos municípios de Eldorado do Sul, Nova Santa Rita, Viamão, Guaíba, Santa Margarida, Canguçu, Charqueadas, Manoel Viana, Tapes, Camaquã, São Gabriel, Capivari, Sentinela, Arambaré, Taquari e São Jerônimo. Já as sementes são produzidas em Eldorado do Sul, Nova Santa Rita, Viamão, Guaíba, Santa Margarida, Canguçu, Charqueadas e São Jerônimo.

Produção limpa há 18 anos
As primeiras experiências do MST na produção orgânica de arroz foram desenvolvidas em 1999, nos assentamentos da Reforma Agrária na região Metropolitana de Porto Alegre. Todo o processo de produção, industrialização e comercialização é coordenado pela Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap), por meio da marca comercial Terra Livre.
Hoje, grande parte da produção é destinada ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), mas o grão também vai para outros estados e até para a Venezuela. No Rio Grande do Sul, o arroz pode ser adquirido na loja da Reforma Agrária no Mercado Público de Porto Alegre, em feiras ecológicas de diversos outros municípios ou ainda pela compra programada da cooperativa Girasol.

As famílias envolvidas no cultivo de grão e semente estão organizadas no Grupo Gestor do Arroz Agroecológico. Conforme o coordenador da iniciativa, Emerson Giacomelli, o sistema de produção utilizado pelos Sem Terra busca consolidar alternativas à agricultura do agronegócio, estabelecendo uma relação de integração e respeito entre os seres humanos e os recursos naturais.
“A produção do arroz é feita com técnicas que estimulam a fertilidade do solo e a produção de alimentos saudáveis, propiciando mais qualidade de vida aos produtores e consumidores, além de renda às famílias assentadas”, complementa.

A certificação orgânica é realizada em todas as etapas da produção do arroz, com base em normas nacionais e internacionais, desde o ano de 2004. Ela ocorre por meio de dois procedimentos: certificação participativa (OPAC – Coceargs) e auditoria (IMO – Ceres).

Reportagem de Mateus Zimmermann para a Girasol com informações da imprensa do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

Foto: Vanessa Branco
Foto: Vanessa Branco
Foto: Mateus Zimmermann
Foto: Mateus Zimmermann

Um comentário sobre “Começa a colheita do arroz agroecológico

  1. Olá, Tudo bem Gostei muito do seu post e seu Blog, Parabéns pela iniciativa, gostaria de fazer uma parceria tem como?

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